Nossa, quanto tempo!... Que reencontro tive nos dois últimos dias comigo mesma lendo esse blog. E que interessante perceber as voltas que o mundo dá, que eu mesma dei... e perceber que cheguei em um lugar que desejei há 4 anos, não exaaatamente, mas assim, resumindo e vendo o lado bom da história. O fato é que esse reencontro me acalentou o coração e acalmou um pouco as angústias atuais.
Vamos a uma retrospectiva?! Venho há bastantes anos pensando sobre educação, como já disse muito por aqui, tendo chegado ao conceito de educação integral enquanto estava nos Estados Unidos. Venho pensando sobre os processos de aprendizagem, os estilos, as experiências que nos correm, nos tocam e nos ensinam quem somos nós e qual nosso lugar no mundo - falo isso pensando no Jorge Larrosa Bondía.
Li em uns post anteriores que eu desejava trabalhar com formação de professores, para depois chegar a gestores... e li sobre os meus devaneios sobre materiais didáticos. Pois bem, diferente do que eu havia esperado que aconteceria em 2015, os caminhos "tortos" me possibilitaram permear esses espaços sonhados, de forma muito diferente do que imaginava. Que surpresa boa perceber isso com tanta clareza hoje.
Vou contar um pouco sobre o percurso. No fim de 2014 eu passei em um mestrado em Dance Movement Psychotherapy na Roehampton University, em Londres - uma das melhores da área de arteterapia - mas acabei não tendo a grana para me mudar para a terra da rainha realizar mais esse grande sonho, daqueles que o coração engrandece ao sonhar, e os olhos desaguam ao conseguir... Então, foi muito dolorida essa frustração de não poder ir, apesar de tantos esforços que eu despendi para essa grande conquista. Foi uma frustração muito dolorida mesmo. E demorou pra curar a ferida que essa situação e outras que vieram na sequência me causaram. Foram alguns tombos grandes em pouquíssimos meses, e eu saí bem machucada deles. Só agora estou conseguindo me reorganizar, pra ser bem sincera.
Pois bem, os fatos são: em 2015 eu fiquei desempregada e acabei pegando um "frila" em uma editora, que em poucos meses virou um "frila-fixo" como revisora textual de livros didáticos. Foi meio sem querer que eu fui, porque na época queria mais dar aula do que ficar sentada revisando o dia todo. No início meu corpo doía todo de ficar tanto tempo sentada em uma cadeira não tão confortável.. e meu coração doía porque eu queria mesmo era dançar. É... resiliência é uma competência muitíssimo desafiadora de desenvolver, dolorida, no meu caso, literalmente.
Ali na editora eu conheci mulheres inspiradoras, fui valorizada pela minha chefe e aprendi muitas coisas, sobre livros e sobre a vida. Em três anos me qualifiquei como revisora e preparadora textual, entendi o processo de produção de livros (algo que sempre me fascinou) e refleti mais e com pesar sobre como nosso sistema educacional é atrasado, como nosso sistema público de educação é frágil e como estamos formando cidadãos igualmente frágeis, tristemente.
Em 2017 a vida me deu mais uma rasteira avassaladora, eu perdi minha avó-mãe em janeiro, um mês depois de o Lê, meu tio-irmão ter ido morar na Austrália. Foi como se eu tivesse perdido qualquer parâmetro sobre o que é ter uma família, um lugar pra voltar, um porto-seguro. A ausência dos dois por perto de uma só vez me quebrou em pedacinhos bem pequenininhos... eu não consegui fingir que conseguiria continuar a caminhada, eu não podia mais andar por aquele mesmo caminho.
Então eu parei tudo, e me deixei viver o luto, que acabou me trazendo para outra cidade, outro estado... onde eu voltei pro útero, de certa forma. Eu precisava estar perto de água, da natureza, pra tentar viver sozinha a dor e me curar em algum momento... Em maio, eu desfiz da minha casa em SP, peguei minhas (muitas) tralhas, minha cachorra Jess (que adotei em abril de 2015) e minha gata preta Feliz (que peguei na rua em Araxá no reveillon de 2014-15) e desci de van com uma colega para Floripa, a ilha da Magia - onde eu não conhecia ninguém e não tinha nada me esperando.
Aqui na ilha eu sofri sem ter que fingir nada pra ninguém. Fiquei sozinha na cama dias, fiquei sem banho, sem comer, sem sair de casa, perdi minha gata queridíssima, sofri mais, achei que não ia nunca mais sorrir... mas aqui também comecei a recuperar minha conexão com a natureza, passei algumas horas contemplando a lagoa e me enchendo de beleza, outros dias conseguia fazer uma caminhada mais longa e ia ver o mar, sentir a maresia, outros dias comecei a interagir com vizinhos, com pessoas na rua, então eu me apaixonei por um cara, que acabou se tornando um grande amigo (ai esse mundo gay! rs), e fiz uma amiga com quem acabei indo morar, voltei a dar aulas de português para estrangeiros... e a vida foi devagar voltando a fazer algum sentido. Nesse meio tempo tive que voltar a SP para um frila na editora, porque a grana tava curta e tenho essa porta ainda aberta... mais um desafio que consegui vencer, ufa!
Foi no fim de 2017 que eu recebi um e-mail surpreendente, em resposta a um currículo que enviei sem muita expectativa, marcando uma entrevista para uma vaga no Instituto Ayrton Senna. Foi um processo seletivo bem interessante e eu fui confiante dar uma aula-teste que preparei com muito amor, muito cuidado e confiança. Passei! Em janeiro deste ano iniciei meu trabalho como Agente Técnica do IAS, em uma parceria com a Secretaria de Educação de SC. O que isso significa? Bem, resumindo, eu dou assessoria na implantação de um programa chamado Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI) para sete escolas, de quatro regionais diferentes. Ou seja, cá estou eu trabalhando com educação integral, que tanto me interessa há tanto tempo. Yey!
É um trabalho muito desafiador, muitas vezes cansativo, mas absurdamente recompensador. Eu aprendo muito sobre tantas coisas que me interessam, também aprendo formas novas de me organizar (desafio de vida) e posso ver coisas lindas sendo feitas na educação pública brasileira - muitas vezes me emociono com o que vejo e escuto. Tenho uma profunda admiração pelas comunidades escolares envolvidas e comprometidas com essa formação integral dos jovens e sou extremamente grata por poder fazer parte disso. Claro que nem tudo são flores, há muitos espinhos, sim... Mas eu prefiro focar nas flores, são elas que nos inspiram a continuar buscando a beleza no mundo.
Bem, esse é um resumo de um grande ciclo de quatro anos sem postar. Ciclo de muitas perdas, mas muitas novas possibilidades. Um ciclo de morte e de renascimento pessoal. Mais um recomeço que estou finalmente compreendendo como tal. Esses momentos de retrospectiva realmente são necessários e me ajudam a compreender o caminho que estou trilhando.
Vejo agora que chegou o momento de aceitar e abraçar a chance de dar sentido à vida que tenho, à caminhada que venho realizando. De aceitar essa fase da vida como mais um passo na construção do meu projeto pessoal... que vai se delineando e se mostrado bem lentamente para mim. Paciência é uma virtude, hehehe... Só desejo que eu tenha a força necessária para continuar dando os passos necessários rumo ao meu propósito de vida! Voltei ;)